SÃO PAULO – A redução da taxa básica de juros (Selic) vai facilitar o alcance da meta do superávit primário neste ano, que é justamente a economia feita pelo setor público consolidado – governo federal, Banco Central (BC), estados, municípios e empresas estatais – para pagar os juros da dívida pública. De acordo com o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, o mercado não tem dúvidas do compromisso sinalizado pelo governo para fazer essa economia junto com juro baixo, de modo a garantir um crescimento econômico a longo prazo.

O economista e coordenador do curso de Gestão Financeira da Veris IBTA Metrocamp, Fabrício Pessato Ferreira, explica que a redução da Selic ajuda indiretamente o esforço do governo em atingir a meta do superávit primário, de modo que o custo da rolagem da dívida pública diminui. Segundo ele, a queda da taxa reduz a procura por títulos indexados à Selic, com isso “sobra mais dinheiro” para o caixa do governo. “Isto favorece para que o setor público tenha que fazer menos esforço para atingir a meta”, diz.

O professor de Economia da ESPM, José Eduardo Amato Balian, endossa a opinião de Ferreira. “Tecnicamente, a queda da Selic não favorece o superávit primário. O que reduz é déficit nominal que o resultado primário menos os gastos com juros”, entende.

Na opinião dele, “subjetivamente”, a ajuda vem da confiança do setor público em fazer novos negócios, influenciada pelo comprometimento do governo em realizar uma boa gestão fiscal. “Com isso, aumentaria arrecadação e atrairia investimentos, importantes para aumentar a receita pública”, conclui.

Pesquisa divulgada ontem pela Febraban confirma esse cenário. A mediana das previsões de 31 instituições financeiras entrevistadas é de que a meta de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) será alcançada neste ano. O resultado aponta uma leve alta na expectativa ante o projetado no levantamento de janeiro (2,8% do PIB), assim como aconteceu com a estimativa para 2013.

Ao mesmo tempo, os analistas consultados esperam que a taxa básica de juros fique em 9% ao final deste ano. Na pesquisa anterior, eles aguardavam que a Selic fecharia a 9,5%. “A alteração veio após a sinalização do Banco Central de que haverá nova redução na próxima reunião do Copom [Comitê de Política Monetária]”, explica o economista-chefe. Para 2013, porém, a mediana das previsões subiu de 9,5% para 9,75%. Esse aumento da Selic está relacionado à previsão de que a inflação cresceria de 5,3% em 2012, para 5,5%, no ano que vem. “Mesmo assim, ambas estariam afastadas do centro da meta, de 4,5%”, esclarece.

Essas medianas contemplam a previsão de que a expansão econômica de 2012 será de 3,3% – contra 3,4% aguardado na pesquisa anterior -, e de que no ano que vem o PIB apresentará alta de 4,2%. Ambos, se confirmados, mostrariam uma recuperação do ritmo de avanço econômico, segundo Sardenberg, já que em 2011, o PIB subiu 2,7% ante o observado em 2010, para R$ R$ 4,143 trilhões.

Por outro lado, o economista-chefe comenta que houve uma estagnação das projeções, pois ele acreditava que haveria um aumento do otimismo dos analistas. “As estimativas apontam para um crescimento moderado da atividade econômica, em vista dos números fracos da produção industrial no Brasil, da situação da Europa, e da revisão para baixo da expectativa de expansão econômica da China”, avalia Rubens Sardenberg.

Com relação à atividade industrial, a análise pode ser confirmada pelo dado divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontou retração da produção pelo sexto mês consecutivo em fevereiro. O indicador de evolução da produção ficou em 46,5 pontos em fevereiro, um avanço em relação à leitura de 45 em janeiro, mas ainda abaixo dos 50 pontos.

Crédito

Outro indicador que mostra essa preocupação do mercado, na opinião de Sardenberg, é com a expectativa para o avanço do crédito neste ano. “Também esperávamos que houvesse melhora nas medianas, o que não foi observado. A leitura favorável é que a retirada das medidas macroprudenciais, a redução dos juros, e o afastamento do risco de ruptura do cenário internacional fizeram com que os analistas projetassem aumento de 16% do crédito. Porém, o número mostra uma estagnação nas previsões”, diz.

Na comparação entre a pesquisa de janeiro e a anunciada ontem, a estimativa para essa expansão recuou de 16,5%. Para 2013, o prognóstico subiu de 15,8% para 16%. “O resultado é justificado pela aparente cautela das instituições financeiras, dos empresários, e das famílias brasileiras, mediante um desempenho fraco da economia brasileira e terem ainda incertezas com relação ao mercado externo”, conclui o economista.

Fonte: DCI – Diário Comércio Indústria & Serviços

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